Dados do Trabalho
Título
ENFISEMA ORBITARIO POS-ENUCLEAÇAO EM CAO
Resumo
Um Shih-tzu macho, castrado, de 8 anos de idade, foi atendido no Setor de Oftalmologia do Hospital Veterinário da Universidade Estadual Paulista (FMVZ, UNESP, Botucatu) para avaliação de intenso aumento de volume orbitário progressivo crônico unilateral. O animal passou por um procedimento cirúrgico de enucleação do olho esquerdo há 2 anos, após trauma perfurante e infecção crônica. A tutora relatou início do aumento de volume orbital há aproximadamente 1 ano após a realização da enucleação com evolução progressiva, porém relata que o animal não apresentava desconforto no local. Ao exame foi observado aumento de volume exuberante de consistência macia à palpação na região da órbita ocular esquerda. Durante a realização da citologia aspirativa por agulha fina (CAAF) para identificação do conteúdo foi possível diagnosticar a presença do enfisema orbitário. Este procedimento possibilitou o diagnóstico e descomprimiu temporariamente a órbita, porém com recidiva completa do quadro em três dias. Foi realizada a dacriocistografia para visualização da patência do ducto nasolacrimal por meio de injeção do contraste no aumento de volume, e intervenção cirúrgica para coaptação do ducto e blefaroplastia. O enfisema orbitário é uma condição pouco relatada na veterinária, pode ocorrer após processos infecciosos ou traumas com fraturas envolvendo ruptura dos seios paranasais. No entanto, é mais provável apresentar-se como complicação da enucleação, sendo as raças braquicefálicas as mais predispostas, devido ao aumento da pressão na cavidade nasal desses cães durante a expiração. O ar é pressionado para dentro da órbita através do ducto nasolacrimal patente em cavidade nasal ou oral, resultando em movimento retrógrado do ar para o espaço orbital. Na literatura há relato em cães, gato e avestruz, com desenvolvimento de pneumatose em períodos variados, 11 dias, 4 semanas, 5 e até 6 anos após a realização do procedimento. Os diagnósticos são confirmados por meio de dacriocistografia, punção ou exploração cirúrgica, podendo ou não ter associação de estruturas anexas remanescentes. Os tratamentos variam entre drenagem, reeintervenção cirúrgica para cauterização ou fechamento do ducto nasolacrimal, e retiradas dos remanescentes caso necessário. O enfisema orbital pode se resolver espontaneamente, e se persistir, a extremidade proximal do ducto nasolacrimal deve ser identificada e ligada. Em raças braquicefálicas, a ligadura profilática do ducto nasolacrimal no momento da enucleação pode ser considerada. A injeção de agentes esclerosantes, como a tetraciclina, na órbita seguida pelo uso de bandagens de pressão também foi relatada como uma opção de tratamento. Acredita-se que o enfisema observado neste caso é secundário à comunicação nasolacrimal da cavidade oral, pois foram excluídas as outras causas, e esteja associado à característica respiratória de cães braquicefálicos. Este relato destaca a importância de se avaliar cuidadosamente a coaptação do ducto nasolacrimal durante a realização da enucleação, em especial nos cães braquicefálicos, garantindo o bloqueio total da sua patência, e evitando complicações futuras. A reintervenção com blefaroplastia e ligadura no local de inserção do ducto nasolacrimal é uma técnica cirúrgica indicada.
Área
Veterinária
Autores
ANITA MARCHIONATTI PIGATTO, CLÁUDIA VALÉRIA SEULLNER BRANDÃO, NATHALIA FONSECA RAMOS , LAURA MICHELINI, ERICK YUJI TOKASHIKI , MARIA JAQUELINE MAMPRIM, JEANA PEREIRA DA SILVA