Dados do Trabalho
Título
MANIFESTAÇOES OCULARES DA HANSENIASE E SUAS COMPLICAÇOES: RELATO DE CASO
Resumo
APRESENTAÇÃO: Paciente masculino, 47 anos, procedente de Jureia-MG. Apresenta hanseníase forma Virchowiana diagnosticado em 2008 com manifestação inicial de manchas hipocrômicas e hipoestésicas em dorso. Iniciou tratamento com rifampicina, dapsona e clofazimina por 12 meses com controle da doença por 4 anos, até iniciar com nova fase de atividade, com aumento significativo de lesões cutâneas. Optado por retorno do tratamento com a poliquimioterapia, com duração de 24 meses. Tem histórico de múltiplos episódios de exacerbações tipo 2 desde o diagnóstico, sendo necessário uso de talidomida e prednisona para controle.
Compareceu no serviço de oftalmologia do HC-UNICAMP em abril de 2023, referindo baixa de acuidade visual progressiva e indolor em ambos os olhos há um ano, seguido de dor ocular em ambos os olhos há 4 meses. À ectoscopia: múltiplas lesões cutâneas em membros superiores, inferiores, trinco, extremidades e face. Região facial: madarose, nariz em sela, fácies leoninas e deformidades em pavilhões auriculares.
Exame oftalmológico: sensibilidade corneana abolida , acuidade visual de 0,16 de olho direito e 0,5 de olho esquerdo. À biomicroscopia: entrópio, triquíase e ausência de cílios em pálpebra superior, precipitados ceráticos finos, ausência de celularidade e de flare em câmara anterior, múltiplas atrofias irianas com nódulos perláceos, nervo corneano espessado, pupila miótica, pérola iriana precipitada em câmara anterior inferior. Paciente fácico de ambos os olhos.
A pressão intraocular de 10mmHg de olho direito e 40mmHg de olho esquerdo. Gonioscopia de olho direito com ângulo aberto até trabeculado anterior 360° com sinéquias altas. Em olho esquerdo: ângulo fechado 270°, aberto em ângulo superior com sinéquia em tenda. A fundoscopia de olho direito foi impossível devido pupila puntiforme e em olho esquerdo: disco óptico pálido, escavação 0,7 x 0,7, vítreo límpido, retina aplicada, mácula com redução de brilho e afilamento vascular.
Após discussão com equipe de uveíte e glaucoma, foi concluído que os achados oculares resultam de quadros inflamatórios crônicos relacionados ao curso da doença, já que não foram evidenciados sinais de inflamação ativa no momento. Optado pela indicação de implante de tubo em olho esquerdo na tentativa de controle pressórico com coleta de material de pérola iriana precipitada para análise anatomopatológica posterior. Prescritas 3 drogas hipotensoras em olho esquerdo e acetazolamida até realização cirúrgica.
DISCUSSÃO: A hanseníase é uma infecção causada pelo Mycobacterium leprae, afeta principalmente pele e os nervos periféricos, podendo afetar os olhos, causando inflamação granulomatosa crônica. O Brasil ocupa a segunda posição mundial em prevalência. A estimativa de acometimento ocular na hanseníase é de aproximadamente 70%, enquanto probabilidade de evoluir para cegueira é de 5%. Os achados oculares são mais comuns na forma Virchowiana e podem surgir antes, durante ou após a cura microbiológica. A forma virchowiana tem como principal manifestação ocular a uveíte crônica, tendo o achado patognomônico das pérolas irianas, formadas por agregados de bacilos mortos de M. leprae. Em estágios avançados, surgem áreas extensas de atrofia iriana e pupilas mióticas. Podem ocorrer sinéquias anteriores causando bloqueio da malha trabecular e glaucoma secundário. O paciente descrito apresenta alterações comumente descritas, além disso, tem achado raro e patognomônico, as pérolas irianas.
Área
Uveítes
Autores
ISABELLA MAZZO MIORIM, VITOR BORGES GUIMARAES, LUIZA MARETTI SCOMPARIN